
Hino Homérico a Deméter
O história do rapto de Perséfone é narrada em um dos trinta e três poemas épicos que foram atribuídos a Homero. O “Hino homérico a Deméter I” nos conduz com um toque de mistério e teatralidade, a jornada de luto da deusa da agricultura Deméter em busca da sua perfumada e oculta filha Perséfone. Essa narrativa literária é datada da primeira metade do século Vl, porém essa e outras tantas histórias já circundavam o imaginário dos antigos através da tradição oral.
A história que você estará escutando foi instrumento mágico fundamental na formação cívica dos ritos eleusinos, uma das principais cerimônias em caráter de mistério realizadas na Grécia Antiga. Sua estrutura épica caracteriza uma narrativa propícia para ser recitada em simpósios e celebrações tais como as realizadas em Elêusis.
Hino homérico a Deméter II
Deméter de belos cabelos, augusta deusa, começo a cantar,
e sua filha de finos tornozelos, que Edoneu
raptou. Deu-a o gravitroante longividente
Zeus, longe de Deméter de dourada espada de esplêndido fruto,
quando, no prado macio, com as filhas de fundos colos do Oceano,
brincava de apanhar flores: rosas, açafrão, violetas belas,
lírios, jacinto e um narciso, prodigioso brilhante, que a Terra,
como dolo, para a filha de olhos de pétala e
para agradar ao Hóspede de muitos, fez nascer
conforme os desígnios de Zeus. Um objeto de temor foi então visto por todos,
tanto pelos deuses imortais quanto pelos homens mortais.
De sua raiz nasceu uma cabeça de cem pétalas,
e com a fragrância da flor todo o céu vasto do alto
e toda a terra e a onda salina do mar sorriram.
Ela, então, maravilhada esticou juntas ambas as mãos
para pegar o belo brinquedo. Abriu-se a terra de vasta via
na planície de Nisa, por ali saiu o senhor Hóspede de muitos,
filho de muitos nomes de Cronos, nos seus cavalos imortais.
Tendo-a raptado contrariada para as douradas carruagens
conduzia-a gemendo. Ela, então, gritou alto com a voz
chamando o Cronida, o pai supremo e melhor.
Nenhum dos imortais e nenhum dos homens mortais
ouviram a voz e nem as oliveiras de esplêndidos frutos,
a não ser a jovem filha de Perses que prudente
ouvia de seu antro, Hécate de clara mantilha,
e o senhor Sol, filho luminoso de Hipério, que
ouvia a filha chamando o pai Cronida. Longe, esse estava,
afastado dos deuses num templo muito freqüentado por suplicantes,
a receber belas oferendas dos homens mortais.
O tio paterno, Comandante de muitos seres, Hóspede de muitos,
filho de muitos nomes
de Cronos, conduzia-a contrariada
nos seus cavalos imortais por instigações de Zeus
.
Enquanto a deusa via a terra, o céu estrelado,
o impetuoso mar piscoso
e os raios do sol, ela ainda tinha a esperança de ver
a mãe devotada e a grei dos deuses sempre vivos,
pois a esperança lhe seduzia o grande espírito, apesar de aflita
.
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
Ecoaram os cumes das montanhas e as profundezas do mar
pela voz imortal, e a ouvia
a soberana mãe.
Dor aguda então tomou-lhe o coração. Com as mãos,
arrancou a mantilha ao redor dos cabelos imortais e
lançou sobre ambos os ombros um escuro véu,
e, atirou-se, como um pássaro, sobre o sólido e sobre o líquido
procurando-a. Ninguém queria contar-lhe a verdade,
nem dentre os deuses, nem dentre os homens mortais,
e nem dentre os pássaros um verdadeiro mensageiro veio até ela.
Em seguida, durante nove dias, a soberana Déo
vagava pela terra, tendo tochas acesas nas mãos;
nenhuma vez sorveu a ambrosia e o néctar suave
porque estava aflita, e nem seu corpo lançou nos banhos.
Mas quando dela se aproximou a décima brilhante Aurora,
encontrou-a Hécate, que tinha archote nas mãos,
e para dar-lhe uma mensagem tomou a palavra e falou então:
Soberana Deméter, que trazes as estações, de esplêndidos dons,
qual dos deuses celestes ou dos homens mortais
raptou Perséfone e afligiu teu ânimo amável?
Pois ouvi a voz, porém não vi com meus olhos
quem quer que seja. Digo-te num átimo a verdade toda.
Assim falava Hécate. Não lhe respondia com palavra,
a filha de Réia de belos cabelos, mas, num átimo, com ela,
precipitou-se tendo tochas acesas nas mãos.
Foram até o Sol, que observa os deuses e os homens,
colocaram-se na frente dos cavalos dele e a diva das deusas perguntava-lhe:
Sol, respeita-me como deusa ao menos tu, se alguma vez
ou com palavra ou com ação teu coração e teu ânimo alegrei
.
Da filha que pari, doce rebento, gloriosa na aparência,
a voz intensa ouvi através do ar infinito,
como se forçada, porém não vi com meus olhos.
Mas, tu, pois, que de fato sobre toda a terra e ao longo do mar
olhas do alto do ar divino com teus raios,
dize-me com verdade se de alguma forma tu viste
quem quer que ou dentre os deuses ou dentre os homens mortais
partiu tendo, com coerção, longe de mim, pego minha filha contrariada.
Assim falava. O Hiperionida respondia-lhe com esta palavra:
Filha de Réia de belos cabelos, Deméter, Senhora,
tu saberás. Pois muito te venero e tenho piedade de ti
que estás aflita por causa da filha de finos tornozelos. Nenhum outro
é o responsável dentre os imortais, a não ser o agrega-nuvens Zeus,
que a deu ao Hades para ser chamada jovem esposa
pelo seu próprio irmão. Esse, tendo-a raptado, a conduzia
nos seus cavalos até a treva nevoenta, embora ela gritasse muito.
Vamos, deusa, faze parar o teu grande lamento. Nenhum pouco é preciso que tu
em vão tenhas imensa cólera como essa. Não é para ti genro inconveniente,
entre os imortais, o comandante de muitos seres, Edoneu,
teu próprio irmão e do mesmo sangue. Por sua honra
coube-lhe sua parte quando no princípio em três a partilha foi feita.
Ele habita entre aqueles a quem coube-lhe ser o soberano.
Assim tendo dito animou os cavalos que, pelo grito,
rapidamente levaram o carro veloz, como pássaros de longas asas.
Dor mais maligna e terrível o ânimo da deusa invadiu.
Tendo com o Cronida de sombrias nuvens se irritado, em seguida,
afastando-se da assembléia dos deuses e do alto Olimpo,
partiu para as cidades e os campos opulentos dos homens,
dissimulando a aparência por muito tempo. Nenhum dos homens
que a olhasse a reconhecia e nenhuma das mulheres de fundas cinturas,
até que ela chegasse ao palácio do prudente Celeu,
ele que era, então, soberano da perfumada Elêusis.
Ofendida no coração, perto da estrada sentou,
no poço das Virgens, de onde os cidadãos tiravam água,
na sombra (por cima nascia um ramo de oliveira),
parecida uma velha nascida antigamente, que tanto do parto
se abstinha quanto dos dons da ama-coroa Afrodite
:
tais são as nutrizes dos filhos dos reis justiceiros
e as intendentes no interior dos palácios rumorosos.
Viram-na as filhas de Celeu, filho de Eleusino,
quando iam até a água fácil de puxar, a fim de levarem
nos baldes de bronze para o palácio do pai.
Eram quatro e, como deusas, tinham a flor da juventude,
Calídice, Cleicidice, a encantadora Demo
e Calitoé, que delas todas era a mais velha,
e não a reconheceram. Difíceis são os deuses de serem vistos pelos mortais.
Colocando-se perto dela, aladas palavras lhe dirigiram:
Quem és e vens de onde, oh! velha, dentre os homens antigamente nascidos?
Por que enfim longe da cidade foste e não te aproximaste das nossas casas?
Lá há mulheres nos paços sombreados,
tão idosas, assim como tu, e mais jovens,
que te dedicariam amizade seja com palavra seja com ação.
Assim falavam.Com estas palavras respondia-lhes a soberana das deusas:
Filhas queridas, quem quer que sejais dentre as mais femininas mulheres,
eu vos contarei, alegrai-vos. Não é por certo inconveniente
para vós que perguntastes a verdade contar.
Dós é meu nome. Pois colocou-o minha soberana mãe.
Agora há pouco, de Creta, sobre as vastas costas do mar
eu vim não querendo, pela força e contrariada, com coerção
homens piratas me levaram. Em seguida, eles,
com a nau veloz, em Torico, aportaram, lá mulheres
do continente embarcaram em massa, e lá mesmo eles,
perto das amarras da nau, a refeição preparavam.
Mas não se encantava meu ânimo do alimento doce como o mel,
então, aventurando-me pelo continente negro, escondida,
fugia dos soberbos comandantes, a fim de que não
tirassem proveito de meu preço vendendo a mim que não fui comprada.
Desse modo aqui cheguei errante, e nem um pouco sei
que terra é, e quem são os nascidos.
Mas que, para vós, todos os que têm o palácio Olímpio
dêem jovens maridos e filhos sejam paridos
como querem os pais. De mim ao contrário tende compaixão, filhas,
de boa vontade. Queridas filhas, de quem ao palácio posso ir,
homem ou mulher, a fim de que para eles eu trabalhe
de boa vontade, como são feitos os trabalhos de uma mulher idosa?
E se tivesse nos braços uma criança recém nascida
bem a amamentaria, o palácio vigiaria
e o leito do senhor no fundo dos tálamos bem construídos
estenderia, e disporia as mulheres para os trabalhos.
Falava a deusa. Logo a ela respondia a jovem virgem,
Calídice, das filhas de Celeu, a de melhor aparência.
Mãe, os dons dos deuses mesmo aflitos ainda que com coerção
nós os homens suportamos. Pois de fato eles são muito mais fortes.
Essas coisas a ti de modo seguro ensinarei e nomearei
os homens para os quais há aqui grande poder de honra,
e entre o povo são os primeiros, e as muralhas da cidade
protegem com deliberações e retas justiças,
seja do sagaz Triptolemo, seja de Diocles,
seja de Polixeno, seja do irreprovável Eumolpo,
seja de Dolico, seja do nosso pai viril,
deles todos as esposas dos seus palácios cuidam.
Mesmo que uma delas, logo à primeira vista,
a tua aparência desonrasse, da casa não te afastaria,
mas todas te receberão. Pois de fato és semelhante aos deuses.
Mas se tu quiseres, espera, a fim de irmos ao palácio do nosso pai
e dizermos a nossa mãe de funda cintura Metaneira
todas essas coisas do princípio ao fim, oxalá ela te exorte
a ires para o nosso palácio e de outros não procurares.
Seu filho temporão, nascido de pais idosos, no paço bem construído
é nutrido, filho muito desejado e bem-vindo.
Se tu o nutrisses e se na idade da juventude ele chegasse,
facilmente aquela que dentre as mais femininas mulheres te visse
te invejaria. Tanto pela nutrição ela te daria.
Assim falava. A deusa aprovou com a cabeça, e elas que os brilhantes
vasos tinham enchido de água levavam-nos orgulhosas.
Rapidamente chegaram à grande casa do pai, e num átimo, à mãe,
disseram o que viram e ouviram. Ela bem depressa
ordenou que fossem chamá-la sob imensa recompensa.
Então elas como as corças ou as novilhas na estação da primavera
saltam no prado após saciarem suas entranhas na pastagem,
assim elas erguendo as pregas das vestes sedutoras
precipitaram-se ao longo do cavado caminho, os seus cabelos
balançavam ao redor dos ombros iguais à flor do açafrão.
Encontraram a gloriosa deusa perto da estrada, ali onde antes
a deixaram. Depois, enquanto ao palácio do pai delas a
conduziam, ela então atrás, ofendida em seu coração,
caminhava coberta da cabeça para baixo; o manto
escuro se enrolava ao redor dos esbeltos pés da deusa.
Prontamente chegaram ao palácio de Celeu nutrido por Zeus,
atravessaram o pórtico, ali a soberana mãe delas
permanecia ao lado da coluna do teto solidamente feito,
em seu colo mantinha uma criança, um jovem rebento. Elas junto dela
correram, e quando a deusa caminhou com os pés sobre a soleira, então,
sua cabeça alcançou a padieira e encheu as portas de luz divina.
A veneração, o temor e o pálido horror tomou Metaneira.
Cedeu-lhe seu divã e a sentar-se a exortava.
Mas Deméter que traz as estações de esplêndidos dons,
não quis sentar-se sobre brilhante divã,
mas em silêncio permanecia, tendo os belos olhos abaixado,
até que lhe colocasse Iambé, devotada mulher,
um sólido banco, e por cima lançasse alva lã.
Sentando-se ali manteve com as mãos o xale diante de si.
Ofendida, sem voz, por muito tempo permanecia no assento,
a nenhuma se dirigia nem com palavra e nem mesmo com ação,
mas, sem rir, sem apetite de comida e de bebida,
permanecia, consumindo-se pela saudade da filha de funda cintura,
até que com escárnio Iambé, devotada mulher,
zombando-se muito dela, fizesse a soberana pura voltar
a sorrir e a rir e a ter propício ânimo.
Ela que de fato também mais tarde agradou seu espírito.
Dava-lhe, Metaneira, um copo de vinho doce como o mel
tendo-o enchido, mas ela recusou. Pois não lhe era permitido, dizia,
beber vinho vermelho, exortou-a, então, a dar-lhe cevada e água
para beber, tendo-as misturado com tenro poejo.
Tendo feito a bebida, passou-a à deusa, como essa ordenava.
Recebeu-a, por causa da lei divina, a multi-soberana Déo.
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Entre elas, tomava primeiro a palavra, a bem cinturada Metaneira.
Alegra-te, mulher, já que penso que não és descendente de maus pais,
mas de bons. É aparente em teus olhos a veneração
e a graça, como se (fossem) dos reis justiceiros.
Mas os dons dos deuses mesmo aflitos ainda que com coerção
nós os homens suportamos. Pois um jugo jaz sobre nosso pescoço.
Agora, já que chegaste aqui, quanto é meu será teu.
Nutra este meu filho, que, nascido de pais idosos e não aguardado,
deram-me os imortais, objeto de muitas preces ele é para mim.
Se tu o nutrisses e se na idade da juventude ele chegasse,
aquela que dentre as mais femininas mulheres te visse
te invejaria certamente. Tanto pela nutrição eu te daria.
Disse-lhe, por sua vez, a bem coroada Deméter:
Também tu, mulher, alegra-te muito, que os bens os deuses te passem.
Teu filho receberei de boa vontade, como me pedes.
Eu o nutrirei, e espero que não pelas imprudências de uma ama
nem sortilégio nem poção o prejudique.
Conheço antídoto bem mais proveitoso do que poção de flora,
contra tal sortilégio de males, conheço pois bela defesa.
Assim que acabou de falar recebeu-o em seu perfumado colo
com as mãos imortais. Exultou nas entranhas a mãe.
Assim ela, o esplêndido filho do prudente Celeu,
Demofonte, que a bem cinturada Metaneira pariu,
nutria nos paços. Ele crescia igual a um deus,
não comendo pão, nem mamando. Deméter
ungia-o com ambrosia como se fosse nascido de um deus,
e docemente o assoprava enquanto em seu colo o mantinha.
Durante as noites, o ocultava no ardor do fogo como um tição,
às escondidas dos seus pais. Para eles era grande espanto
que ele crescesse rápido e fosse na face semelhante aos deuses.
E Deméter o faria sem velhice e imortal,
se, por sua demência, a bem cinturada Metaneira,
durante a noite, vigiando do perfumado tálamo,
não a observasse. Ela gritou e feriu ambas as coxas
receosa por seu filho e muito errada no ânimo,
então, gemendo aladas palavras lhe dirigiu:
Filho Demofonte, a estrangeira em muito fogo
oculta-te, e em mim lamento e desgostos pérfidos coloca.
Lamentando-se, assim falava. Ouvia-a, a diva das deusas.
Tendo se irado com ela, Deméter de bela grinalda,
o caro filho, que não aguardado nos paços gerara,
libertando-o do fogo, colocou-o com as mãos imortais longe dele, no solo,
estando muito terrivelmente encolerizada no ânimo,
e, de imediato, disse à bem cinturada Metaneira:
Homens néscios e insensatos que não prever conseguem
seu destino, nem bom nem mau quando se aproxima.
Também tu por tua demência erras grandemente.
Atesto pois a jura dos deuses, amargosa água do Stix.
Imortal por certo e para sempre sem velhice
faria o filho teu, dando-lhe imperecível honra.
Agora, não há como possa fugir dos infortúnios e da morte.
Honra imperecível, contudo, sempre haverá sobre ele porque em
nossos joelhos subiu e em nossos braços dormiu.
No tempo em que os ciclos dos anos, para ele, se acabarem,
os filhos dos Eleusinos batalha e discórdia terrível
continuamente, entre uns e outros, farão aumentar para sempre.
Sou Deméter honrada, a que é grandíssima
valia e alegria para os imortais e mortais.
Vamos, que a mim um templo grande e um altar sob ele
faça o povo todo, sob a cidade e sob seu escarpado muro,
no alto do Calicoro, sobre proeminente colina.
Os ritos eu própria vos ensinarei, a fim de que mais tarde
vós santamente celebrando-os possam meu espírito apaziguar.
Assim tendo dito, a deusa o talhe e a aparência trocou,
despojando-se da velhice em volta dela a beleza esplendia.
Uma fragrância sedutora dos seus perfumados mantos
espalhava-se, e, ao longe, a luz do corpo imortal
da deusa luzia, e seus cabelos louros caiam sobre seus ombros,
e de um clarão encheu-se a sólida casa como de um relâmpago.
Atravessou os paços, os joelhos de Metaneira logo fraquejaram
e por muito tempo tornou-se sem voz, e nem sequer se lembrou
de levantar o filho temporão do chão.
As irmãs dele ouviram sua voz lastimosa,
e, então, pularam dos seus bem estendidos leitos. Uma, depois
de levantar o menino com as mãos, colocou-o em seu colo,
outra inflamava o fogo e outra atirava-se com pés suaves
para erguer e afastar a mãe do perfumado tálamo.
Agrupadas ao redor dele o lavavam, embora se debatesse
cercavam-no de afeto. Mas o ânimo dele não se deixava adoçar;
pois de fato eram as mais inferiores nutrizes e amas que o tinham.
Elas a noite toda apaziguavam a gloriosa deusa
porque tremiam de medo. Na hora em que brilhou a aurora
contaram a verdade a Celeu de vasta força,
o que determinava a deusa, Deméter de bela grinalda.
Ele, então, depois de chamar para a ágora seu numeroso povo
mandava que fizessem, para Deméter de belos cabelos, um opulento templo
e um altar sobre proeminente colina.
Muito prontamente obedeceram e ouviam aquele que falava,
e faziam como ele determinava. A obra crescia segundo o destino da deusa.
Depois que acabaram e abandonaram o esforço,
cada um caminhou para ir para casa. Porém, a loura Deméter
ali sentando-se, longe de todos os bem-aventurados,
permanecia consumindo-se com saudade da filha de funda cintura.
Terribilíssimo ano sobre a terra multinutriz
fez para os homens e o mais malífico, a terra nem sequer
uma semente fazia brotar, pois ocultava-a a bem coroada Deméter.
Muitos arados encurvados inutilmente os bois arrastavam nos campos,
e muita cevada branca vãmente caiu na terra.
Ela teria completamente aniquilado a raça dos homens mortais
pela fome penosa, e teria privado os que têm o palácio Olímpio
da honra muito gloriosa dos privilégios e dos sacrifícios,
se Zeus não compreendesse e refletisse em seu ânimo.
Primeiro impeliu Íris de asas douradas para chamar
Deméter de belos cabelos, que tinha aparência muito amável.
Assim falava. Íris obedecia a Zeus Cronida de sombrias nuvens
e o espaço percorreu num átimo com seus pés.
Chegou na cidadela de Elêusis perfumada
e encontrou Deméter de escuro manto no templo,
e falando aladas palavras lhe dirigiu:
Deméter, chama-te Zeus pai que conhece o imperecível
para ires junto a grei dos deuses sempre vivos.
Vamos, que não fique sem cumprimento minha palavra que vem de Zeus.
Assim falava suplicando. Mas o ânimo da mãe não se deixava persuadir.
De novo, em seguida, os bem-aventurados deuses que sempre existem,
todos, <o pai> impelia um a um. Alternadamente os que iam
chamavam-na e ofereciam-lhe muitos belíssimos dons
e honras, as que ela preferisse escolher entre os imortais.
Mas nenhum era capaz de persuadir as entranhas e o espírito
da mãe irritada no ânimo; ela duramente repelia as palavras.
Dizia que jamais subiria no perfumado Olimpo
e que jamais faria brotar o fruto na terra,
antes que visse com os próprios olhos a filha de belos olhos.
Depois que o gravitroante longividente Zeus ouviu isso,
enviou para o Êrebo o Argeifonte de bastão dourado,
a fim de que persuadindo Hades com brandas palavras
conduzisse a pura Perséfone da treva nevoenta
para a luz junto aos deuses, a fim de que sua mãe
vendo-a com os próprios olhos pusesse fim à cólera.
Hermes não desobedeceu. De um golpe arremessou-se sob o covil da terra
com impetuosidade, depois de deixar a sede do Olimpo.
Encontrou o senhor da casa, no interior dela, estando
deitado no leito com a veneranda esposa, que agia
muito contrariada com saudade da mãe. Ela, contra as intoleráveis
ações dos deuses bem-aventurados, tramava57 <terrível> plano.
Colocando-se perto dele, falou-lhe o duro Argeifonte:
Hades de escuros cabelos que reina sobre os mortos,
Zeus pai mandou que eu conduza a nobre Perséfone
do Êrebo para eles, a fim de que sua mãe, vendo-a
com os próprios olhos, faça parar a cólera e o ressentimento terrível
contra os imortais. Visto que ela trama a grande ação
de destruir a grei amena dos homens nascidos no chão,
ocultando a semente sob a terra, destruindo inteiramente as honras
dos imortais. Ela sustém terrível cólera e nem com os deuses
se mistura, mas longe, no interior do seu perfumado templo,
permanece, habitando a rochosa cidadela de Elêusis.
Assim falava. Edoneu, senhor dos mortos, sorriu com as sobrancelhas,
e não desobedeceu às ordens de Zeus rei.
E com impetuosidade ordenou à prudente Perséfone:
Vai, Perséfone, para junto de tua mãe de escuro manto,
mantendo em teu peito furor e ânimo favorável,
e nem um pouco te apavores muito excessivamente em vão.
Não serei para ti entre os imortais inconveniente esposo,
eu que sou o próprio irmão de Zeus pai. Quando aqui estiveres,
serás a senhora de todos quantos vivem e se movem,
e terás entre os imortais as maiores honras.
Sempre haverá castigo aos que te injustiçarem;
aos que não apaziguarem teu furor com sacrifícios
santamente celebrando-te, fazendo-te as oferendas apropriadas.
Assim falava. A prudentíssima Perséfone exultou,
e rapidamente pulou de contente. Mas ele,
escondido, deu-lhe para comer um grão de romã doce como o mel,
depois de espreitar ao seu redor, a fim de que ela não permanecesse para sempre
lá junto da veneranda Deméter de escuro manto.
Edoneu, comandante de muitos seres, arreava, na frente
das douradas carruagens, os cavalos imortais.
Ela subiu na carruagem junto ao duro Argeifonte
que, segurando as rédeas e o chicote com as mãos,
movia os animais através dos paços. A parelha não compelida voava.
Rapidamente concluíram o longo caminho; nem o mar,
nem a água dos rios, nem os vales verdejantes,
e nem os píncaros detiveram a vivacidade dos cavalos imortais,
mas indo sobre eles cortavam a funda névoa.
O condutor colocou-se lá onde permanecia a bem coroada Deméter,
na frente do perfumado templo. Ao vê-los, ela precipitou-se
descendo como uma louca a montanha sombrosa na floresta.
Perséfone vindo de outro lado. . . . . . . . . . . .
de sua mãe descendo. . . . . . . . . . . . . . . .
saltou para correr. . . . . . . . . . . . . . . ..
e a ela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
parando. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Filha, não de qualquer modo contra mim. . . . . . . . . .
do alimento? Fala. . . . . . . . . . . . . . . . .
assim pois subirias à superfície. . . . . . . . . . ..
e junto a mim e a teu pai Cronida de sombrias nuvens
habitarias, honrada por todos os imortais.
Mas, se <tu> voares de novo indo sob o covil da terra
lá morarás a terceira parte do tempo, por ano,
e as duas (outras) junto a mim e aos outros imortais.
Quando a terra se cobrir de odoríferas flores primaveris,
de todas as espécies, então da treva nevoenta
de novo subirás para grande espanto dos deuses e dos homens mortais.
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – —
E por qual dolo te enganou o enérgico Hóspede de muitos?
Por sua vez a belíssima Perséfone em sua face falou:
Pois bem mãe eu te direi a verdade toda:
Quando o benfazejo Hermes rápido mensageiro
veio de junto do pai Cronida e dos outros filhos do Céu
para me tirar do Êrebo, a fim de que tu vendo-me com teus olhos
pusesse fim à cólera e ao ressentimento terrível contra os imortais,
logo eu pulei de contente. Mas ele, escondido,
lançou-me um grão de romã, alimento doce como o mel, e
contrariada e à força coagiu-me a comê-lo.
Como ele me raptou mediante a sólida astúcia do Cronida,
meu pai, e partiu me levando sob o covil da terra,
eu te falarei, e te relatarei tudo o que me perguntas.
Pelo prado muito sedutor, nós todas,
Leucipa, Faino, Eléctra, Ianta,
Melita, Iaca, Ródia, Caliroa,
Melóbosis, Tica, Ociroa de olhos de pétala,
Criséia, Ianira, Acasta, Admeta,
Ródopa, Plutó, a sedutora Calipso,
Stix, Urânia, a graciosa Galaxaura,
Palas a estimuladora do combate e a frecheira Ártemis
brincávamos e com as mãos colhíamos misturadamente flores encantadoras,
açafrão afável, lírios, jacinto,
botões de rosa, lis, prodígio de ser visto,
e um narciso, que a vasta terra fez nascer como açafrão.
Quando eu contente as colhia, a terra por baixo
cedeu, e por ali irrompeu o enérgico senhor Hóspede de muitos.
E foi me levando sob a terra nos seus carros dourados,
muito contrariada, então gritei alto com a voz.
Ainda que aflita anuncio-te toda essa verdade.
Assim o dia inteiro (mãe e filha) mantendo o ânimo concorde
uma alegrava o coração e o ânimo da outra completamente,
cercando-se de afeto, e o ânimo delas parou de doer,
pois recebiam e davam uma para outra grandes alegrias.
Perto delas veio Hécate de clara mantilha,
e então cercou a filha da pura Deméter de muito afeto.
Desde então (essa) senhora fez-se sua servidora e companheira.
Entre elas o gravitroante longividente Zeus fez chegar a mensageira
Réia de belos cabelos para que conduzisse Deméter de escuro manto
junto a grei dos deuses, prometeu dar-lhe as honras,
as que ela escolhesse entre os deuses imortais.
Concordou que sua filha do ano que evolui
(permanecesse) a terceira parte sob a treva nevoenta,
e as duas (outras) junto à mãe e aos outros imortais.
Assim falava. A deusa não desobedeceu às mensagens de Zeus.
E com impetuosidade precipitou-se dos cimos do Olimpo,
e veio então para Raros, seio nutriz do campo
outrora, mas, nessa hora, nem um pouco nutriz, mas inativo
colocava-se todo sem folha, pois escondia a cevada branca,
por desígnios de Deméter de belos tornozelos. Mas, em seguida, quando
a primavera crescesse, devia, de um golpe, colmar alongadas espigas de trigo,
e, então, em seu solo, opulentas fileiras
carregar-se-iam de espigas de trigo, que seriam atadas em feixes.
Ali, Réia subiu primeiramente do ar infinito.
Com alegria uma viu a outra e ficaram alegres no ânimo.
Réia de clara mantilha disse-lhe assim:
Vem, filha, o gravitroante longividente Zeus te chama
para ires junto a grei dos deuses, prometeu dar-te as honras,
as que tu quiseres entre os deuses imortais.
Concordou que tua filha do ano que evolui
(permaneça) a terceira parte sob a treva nevoenta,
<e as duas (outras) junto a ti e aos outros> imortais.
[Ele disse que assim será feito]. E aprovou com a cabeça.
Vamos, minha filha, e obedece, nem um pouco
esteja sem cessar furiosa com o Cronida de sombrias nuvens.
Prontamente faze crescer o fruto nutriz para os homens.
Assim falava. A bem coroada Deméter não desobedeceu,
e prontamente fez brotar o fruto dos campos fecundos.
Toda a vasta terra ficou carregada de folhas e flores.
Depois, ela foi aos reis justiceiros,
a Triptolemo, a Diocles domador de cavalos,
a Eumolpo forte e a Celeu o guia de povos
e mostrou-lhes o cumprimento dos seus mistérios sagrados e indicou os belos ritos
[a Triptolemo, a Polixeno e, além deles, a Diocles],
ritos augustos, que de modo nenhum é possível violar, nem investigar,
nem divulgar, pois um grande temor pelas deusas detém a voz.
Feliz quem dentre os homens supraterrâneos os viu.
Mas, o não iniciado e o não participante nos mistérios sagrados,
jamais têm destino igual, ainda que pereça sob a treva bolorenta.
Depois que de fato ensinou tudo, a diva das deusas
caminhou para ir à reunião junto aos outros deuses no Olimpo.
Ali habitam junto a Zeus que ama o raio
augustas e venerandas. Muito feliz é quem dentre
os homens supraterrâneos, elas, de boa vontade, dedicam amizade.
Enviam prontamente a sua grande casa, a seu lar,
Pluto, que dá riqueza aos homens mortais.
Vamos vós que tendes a região perfumada de Elêusis
e Paros banhada ao redor e Antrona pedregosa,
tu, Déo, soberana de esplêndidos dons, senhora que trazes as estações,
e tua filha, belíssima Perséfone,
de boa vontade, em troca do meu canto, dai-me vida aprazível.
Depois eu me lembrarei de ti e de outro canto.
Referências:
MASSI, G. L. MARIA. Deméter: a repulsão medida. 2001. 133 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.

